Um espaço para experimentação literária e a publicação de Contos, Crônicas e poesias de Janio Ribeiro
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Tuesday, November 15, 2016
Respingos de uma res pública
Pela janela a chuva mostra seus pingos
eles caem lentamente mas são constantes
pontuam um texto qualquer de uma data qualquer
véspera de feriado
proclamação da república
dizem que os tempos estavam nublados
que o rei foi embora, mas ficou a espada
que reino se foi mas a corte ficou
exilou-se o monarca e ficou a monarquia
coligada com os barões do café
com os militares vitoriosos da guerra contra o paraguai
dizem que o erro do rei
dentro tantos,
um erro político inaceitável
foi deixar uma mulher libertar os negros
o patriarcado do café e senhores do engenho não perdoariam
não que a monarquia fosse santa
mas ela findou-se com gestos nobres
enquanto a república nasceu pelo ódio dos senhores de escravo
pela magoa dos militares e pelo oportunismo dos monarquistas.
entre deodoros e florianos
mas poeta, é assim mesmo, o povo é apenas um
traço acrescentando a pintura pelos pinceis do tempo
o protagonismo do povo é lindo nos manifestos
e nos versos de um maiakoviski,
a violência é a parteira da história,
em nome dela muitas vidas foram ceifadas
e muitos discursos proferidos
mas a verdade é que a dialética ainda
espera seus atores principais
dispostos a fazer valer os princípios
basilares de um republica - a coisa pública
de todos e para todos
resta a utopia
Monday, November 14, 2016
Surrealidades de um quase quarenta
Um dia a gente acorda e descobre que está perto dos 40
anos. Depois não acha graça nenhuma em ver a filha descobrindo sua idade e
comemorando o fato de você ser mais velho que o pai da amiguinha dela. “Venci Papai você é mais velho que o pai da
Manoela!”
Depois a gente olha ao espelho do elevador do prédio e
percebe a incrível quantidade de fios brancos de cabelo e não vê charme nenhum
nas chamadas mechas brancas. Nem no papo de que está envelhecendo bem como o
vinho. Lembra que o seu pai perto dos quarenta tinha menos cabelos brancos e já
especulava sobre viver até os 50 anos, está vivendo até hoje graças a Deus.
Em seguida você decide tentar a sorte no ENEM, o
último foi na era FHC do apagão e da greve de que deixou o povo sem gás de
cozinha. Ficava lá na fila com a velha carriola o dia inteiro para tentar um
botijão. Mas voltando ao ENEM, seis meses depois de um golpe.
No primeiro dia dá de cara com um Shakespeare
perguntando: Ser ou não ser? Está ai uma questão eternizada pelo tempo. Alternativa B ou E. Mas de repente você
lembra que a cada ENEM surgem novas polêmicas, que metade dos inscritos farão a
prova em outras datas, porque os locais estão ocupados por estudantes ocupados PEC
55 e a PEC 241. Contra o futuro sombrio projetado pelo governo Temer, um
governo sem voto, sem educação, sem moral. Um golpista e ponto final. E lembra que lá se vão seis meses deste
desgoverno que vem retirando direitos, gastando mais e cortando investimentos. Daí
você olha ao lado e vê uma senhora de 70 anos fazendo a prova com muito entusiasmo,
vira ao outro e uma menina devora três caixas de BIS (chocolate), um a um, num
ritual existencial de respostas, é um BIS para cada questão, mas a prova de
matemática é no domingo.
E de repente ouve gritos de atrasados gritando no
portão. Fechado há quase 40 minutos. Tenta concentrar novamente na leitura da
prova. Sente um aroma no ar de café sendo coado em alguma casa vizinha. Olha
pela janela e vejo o tempo nublado. Lembra novamente das Escolas Ocupadas
contra o corte na educação e responde uma questão sobre Descartes sobre a
autonomia do ser pensante.
Em resumo: Acerta questões
complexas e erra questões fáceis. Ser ou não
ser eis as questões. E quando a gente fica na duvida entre as cinco é porque a
coisa está feia. E o gabarito com respostas distintas. Erra no do O Globo e
acerta no Pré Federal. Mas a gente aprende que falar de poesias e linguagens é
tão complicado como calcular a densidade absoluta de uma razão. E acerta a
média de produção que garante a permanência do gerente, e quando a palavra veio
feito pedra de João Cabral de Melo Neto a decodifica como também o faz na
mudança de estado da acción poética em Lima: No Super que ponerme y me puSe Feliz.
Sim tem poesia no ENEM. Questões
contra o machismo e a discriminação a imigração. Quase fecha filosofia com
Descartes, mas tinha Nietche no caminho. Chuta sem
culpa a química desorgânica.
No domingo segura a
onda por mais de quatro horas por um caderno cinza, acerta Marx em linguagem.
Mas erra o sonho mexicano “Al sonar que um cantáro.
E por ultimo
disserta sobre a espiritualidade política como um dos caminhos
No combate a intolerância
religiosa. Há se a escola dele estivesse ocupada pela educação, seria uma
figura de linguagem, uma metalinguagem, traduzindo o paradoxo de um governo sem
voto, sem direito, e sem educação.
Acorda no dia 09 de
novembro. Dia do Gabarito do ENEM e do aniversário de 7 anos da filha.
Não lê jornais e no trabalho recebe a notícia de Trump eleito. Acorda de
um sonho cinza do tipo Matrix misturado
com House of Cards. Imagina o ENEM de 2017 se é que ainda haverá ENEM e ainda haverá 2017.
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